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Os antecedentes da revolução de 1930

Para entendermos as origens da revolução de 1930, devemos lembrar que todo o sistema político brasileiro da Primeira República estava ancorado em acordos estabelecidos entre as oligarquias que dominavam as diferentes regiões do país. E esses acordos entre as elites locais giravam em torno dos principais eixos da economia agroexportadora nacional, sobretudo na produção do café. No final da primeira década do século XX, por exemplo, se consolida a chamada "política do café-com-leite", que representava uma aliança e uma troca de favores entre governantes de São Paulo e Minas Gerais. Eram esses pactos de poder entre grandes fazendeiros que mantinham o equilíbrio político do Brasil e sustentavam a ordem vigente. Contudo, tratava-se de uma estabilidade um tanto quanto frágil, haja vista que já em 1910 ocorreria um primeiro conflito entre as oligarquias paulistas e mineiras. Esse prenúncio de uma ruptura no equilíbrio de poderes aconteceu porque Hermes da Fonseca, o sucessor do presidente Afonso Pena, que governou de 1906 a 1909, apesar de já ter sido indicado pelas figuras influentes da política conservadora, teve de se defrontar com um candidato novo, Rui Barbosa, que era apoiado em grande parte pelos setores civis da sociedade. O interessante é notar que, mesmo antes de 1930, já surgiria uma dissidência entre os oligarcas de São Paulo - que se aliariam à Bahia para apoiar a candidatura de Rui Barbosa - e os de Minas Gerais, que apoiariam o futuramente vitorioso Hermes da Fonseca juntamente com fazendeiros do Rio Grande do Sul.

A crise da República Oligárquica
O estopim para a revolução de 1930 se deu a partir do fim do governo de Washington Luís (1926-1930), quando se rompeu a alternância sucessória entre paulistas e mineiros na presidência. De acordo com a lógica da política do café-com-leite, este último presidente, que era de São Paulo, deveria dar lugar a um candidato de Minas Gerais ao término de seu mandato. Contudo, Washington Luís indicou o igualmente paulista Júlio Prestes para sua sucessão no poder. Revoltados, os oligarcas mineiros realizaram uma aliança com outros estados oposicionistas a fim de lançar a candidatura de Getúlio Vargas, que na época era o governador do Rio Grande do Sul. Constituir-se-ia, desse modo, a chamada Aliança Liberal, uma coalizão de partidos republicanos regionais que se voltaria contra a hegemonia paulista no poder. Apesar desse oposicionismo, Júlio Prestes venceria as eleições, fato que, somando-se a outro acontecimento inesperado, detonaria um movimento armado contra Washington Luís. O imprevisto assassinato do candidato a vice-presidente de Getúlio Vargas, João Pessoa, precipitaria a revolta das elites no Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba. Até que, incapaz de combater os levantes que se dirigiam ao Rio de Janeiro, Washington Luís entrega o poder a uma junta militar em 3 de novembro de 1930.

Os atores históricos da revolução
A fim de que se torne compreensível o porquê do golpe político de 30 ter instaurado uma junta militar que entregaria o poder a Getúlio Vargas, é necessário recordar o papel não só das oligarquias de outros estados que se voltaram contra a política do café-com-leite, como também o do militarismo nesse contexto. Um dos atores históricos importantes nessa transformação foi o chamado tenentismo, que consistia em um conjunto de militares de baixa patente que desenvolveu uma estratégia de insurreição armada contra o poder dos grandes fazendeiros. Os tenentistas basicamente visavam realizar uma renovação republicana, se autoproclamando um grupo que era contra as fraudes eleitorais e defensor de uma renovação econômica que modernizasse o Estado. Assim, pode-se dizer que as dissidências oligárquicas se uniram ao tenentismo para afastar o núcleo paulista do poder, contribuindo, ambos os grupos, para que se iniciasse a Era Vargas.

As consequências históricas do movimento de 1930
Alguns historiadores acreditam que o golpe de 1930 não possa ser chamado de "revolução", argumentando que, embora as oligarquias tenham perdido a hegemonia no comando do país, setores da burguesia teriam tomado o poder e, assim, mantido os privilégios das elites em detrimento das classes mais baixas da sociedade. Por outro lado, a maioria dos estudiosos acredita que, embora essa revolução não tenha mesmo originado uma grande mudança em relação à estrutura social do Brasil, não teria havido uma ascensão imediata da burguesia e dos setores industriais que queriam modernizar o país. Ou seja, não seria possível pensar que após 1930 o país automaticamente se moderniza e os latifundiários perdem poder político. Isso, porque ocorreria uma modernização conservadora: setores modernos, ligados ao começo do processo de industrialização nacional, se uniriam a setores arcaicos da sociedade, ainda ligados à agroexportação. O colapso da hegemonia da elite cafeeira ocorre somente parcialmente a partir da revolução, e esta última não conduz outra classe ou estrato social ao poder político do Brasil.

De qualquer forma, o movimento de 1930 marca o começo de um longo período em que, gradualmente, se consolidaria um Estado forte e centralizado, que priorizaria a ampliação das atividades industriais e da infraestrutura do país.

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